Habita na alma humana uma vontade profunda de ordem: é a nossa forma de estar no mundo. Postos na passadeira-rolante do agora que foge, pensamos o que está para vir sob a forma de planos – em poesia chamados de sonhos – e arrumamos as coisas passadas numa narrativa mais ou menos coerente que responde pelo nome de: memória. Por meio desta, o passado actualiza-se, faz-se uma vez mais, presente; é uma eurídice, amada de orfeu, que os deuses dos infernos, compadecidos, deixam, já depois de morta, regressar à terra. A memória, fluida (estado líquido do Tempo), guarda de tudo apenas as coisas importantes que nos explicam onde estamos. É como uma cábula da nossa personalidade, à qual recorremos para nos lembrarmos de quem somos.
Isto da memória, válido no plano individual, é-o também ao nível do género humano como um todo. Ensinou-nos Darwin, n’ A Origem das Espécies – e celebramos este ano os 150 anos da sua publicação –, que descendemos todos dos macacos. Só à luz desse passado consigo, de facto, explicar as macacadas que vou sabendo. Aparentemente, no país basco, o candidato do partido nacionalista, num comício durante o período do Carnaval, vestiu os seus apoiantes de personagens do Star Trek e fez-se ele mesmo passar (o sujeito, dizem, é parecido) por Mr. Spock, um dos protagonistas da mítica série de TV. Qual o carnaval mais verdadeiro – se o da política, se aquele que serviu de pretexto para a mascarada – é difícil de assegurar.
O estranho comício tinha como objectivo contrariar a perda de pontos do candidato nas últimas sondagens; foi, de algum modo, uma chamada desesperada de atenção, sem resultado, porém: o candidato nacionalista perdeu as eleições. O interessante no fait diver é como expõe a actual prática política: o importante – como uma criança a quem nasceu recentemente um irmão e fica com inveja dos mimos que não recebe – é chamar a atenção, fazer barulho, estridor e estrondo. A política é espectáculo – som e fúria, para usar o título de Faulkner – encravada entre os soundbites e os bitaites. É a “festa da democracia”, de que falou uma vez Sócrates. Pão e circo, ensinavam os romanos: pão, com a crise, começa a faltar – mas o circo continua.
O circo é hoje um elemento tão fundamental dentro da dinâmica política que quem não se lhe submete não tem qualquer oportunidade real de conquistar o poder (chamava Darwin a isto selecção natural). Objectores de consciência perdem: é isso o que vai acontecer a Manuela Ferreira Leite. Sócrates, esse, sabe servir um bom espectáculo, como se viu agora em Espinho. Sócrates é uma espécie de Scolari da política: não tem qualquer estratégia, mas domina na perfeição a psicologia de grupos (o que tende a funcionar). Um exemplo:
Orwell, no 1984 (aparentemente o livro que mais gente diz ter lido sem ter, de acordo com um novíssimo inquérito britânico), fala nos «dois minutos diários de ódio» – instrumento essencial do poder do Grande Irmão – em que eram mostrados aos filiados no Partido os inimigos contra os quais eles deveriam dirigir a sua raiva. Sócrates e os seus, sábios destas coisas, tiveram o cuidado queixinhas de expor os adversário do PS: o BE, o Público e a TVI, promotores da campanha negra contra o líder rosa (isto é sobretudo uma questão cromática).
O congresso em Espinho foi essencialmente um espectáculo para ser televisionado, uma coisa estridente, sem ideias, com Sócrates como o apresentador do circo, que se prolonga agora pelas três eleições próximas. Darwin já o previra, quando explicou que as espécies evoluem de acordo com o seu habitat: numa república das bananas, não era de esperar, a acompanhar, toda a macacada política respectiva? (Fala um corvo, que não entende nada de símios).
O estranho comício tinha como objectivo contrariar a perda de pontos do candidato nas últimas sondagens; foi, de algum modo, uma chamada desesperada de atenção, sem resultado, porém: o candidato nacionalista perdeu as eleições. O interessante no fait diver é como expõe a actual prática política: o importante – como uma criança a quem nasceu recentemente um irmão e fica com inveja dos mimos que não recebe – é chamar a atenção, fazer barulho, estridor e estrondo. A política é espectáculo – som e fúria, para usar o título de Faulkner – encravada entre os soundbites e os bitaites. É a “festa da democracia”, de que falou uma vez Sócrates. Pão e circo, ensinavam os romanos: pão, com a crise, começa a faltar – mas o circo continua.
O circo é hoje um elemento tão fundamental dentro da dinâmica política que quem não se lhe submete não tem qualquer oportunidade real de conquistar o poder (chamava Darwin a isto selecção natural). Objectores de consciência perdem: é isso o que vai acontecer a Manuela Ferreira Leite. Sócrates, esse, sabe servir um bom espectáculo, como se viu agora em Espinho. Sócrates é uma espécie de Scolari da política: não tem qualquer estratégia, mas domina na perfeição a psicologia de grupos (o que tende a funcionar). Um exemplo:
Orwell, no 1984 (aparentemente o livro que mais gente diz ter lido sem ter, de acordo com um novíssimo inquérito britânico), fala nos «dois minutos diários de ódio» – instrumento essencial do poder do Grande Irmão – em que eram mostrados aos filiados no Partido os inimigos contra os quais eles deveriam dirigir a sua raiva. Sócrates e os seus, sábios destas coisas, tiveram o cuidado queixinhas de expor os adversário do PS: o BE, o Público e a TVI, promotores da campanha negra contra o líder rosa (isto é sobretudo uma questão cromática).
O congresso em Espinho foi essencialmente um espectáculo para ser televisionado, uma coisa estridente, sem ideias, com Sócrates como o apresentador do circo, que se prolonga agora pelas três eleições próximas. Darwin já o previra, quando explicou que as espécies evoluem de acordo com o seu habitat: numa república das bananas, não era de esperar, a acompanhar, toda a macacada política respectiva? (Fala um corvo, que não entende nada de símios).
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