Durante a campanha de Obama, certo cronista do Público, cujo nome não lembro (Laurence Peter definiu originalidade precisamente como esta habilidade de nos recordarmos das coisas, mas não dos seus autores), escreveu a propósito de como os políticos na Europa estavam a tentar aproveitar o fenómeno Obama para renovar a sua imagem, explicando que, mais do que ser Obama, havia que parecer Obama. A campanha do presidente americano apresentou de facto um novo modo de estar e sobretudo fazer política, inevitavelmente clonado sem gosto, como um pechisbeque, agora que entramos em ano eleitoral.
O PSD foi, de todos os partidos, o que mais abertamente explicitou o seu desejo de abandonar o modo velho de política, afirmando – e até com razão – o carácter eminentemente passadista dos comícios. Seguindo Obama, os sociais-democratas lançaram uma forte ofensiva na internet. Mas porque quanto Portugal importa, traduz em calão (Eça dixit), os candidatos laranja às Europeias chegam alguns deles, na sua ânsia de mostrar modernidade, a ter links para o seu Hi5, a rede social de putos e adolescentes. Faz lembrar aquele conferencista da anedota que, convidado para uma sessão solene, procurando infundir um tom elevado ao discurso, em vez de dizer, com simplicidade, «as folhas da couve», acabou a louvar «as pétalas» do vegetal.
Também o PS procura tirar dividendos do fenómeno Obama: num dos seus tempos de antena, são exibidas várias fotos de Sócrates com o presidente americano, não se percebe bem porquê. Se bem me recordo, o candidato do PS é Vital Moreira, não o primeiro-ministro (antes fora: sinal que nos deixava!). Quiçá as imagens sejam uma referência à contratação para as Legislativas, por parte de Sócrates, da empresa que preparou o lado multimédia da campanha de Obama. Na impossibilidade de imitar o conteúdo, imita-se o estilo. Falta ao PS – e à nossa política em geral – o discurso de verdade sobre o qual Obama ergueu a sua vitória.
Estude-se o que aconteceu entre nós com a sugestão de criação de um imposto europeu, avançada por Vital Moreira. Pouco me importa aqui a ideia em si, antes a tomo como exemplum da construção da mensagem política. Vital Moreira, servente fiel de Sócrates, é, apesar de tudo, inteligente demais para não ter opiniões próprias: ei-lo pois a sugerir a criação de um imposto europeu. As hostes rosa perceberam rápidas o erro da coisa e, no dia seguinte, depois de todas as críticas de que fora alvo, Vital Moreira, em obediência aos estrategos de campanha, calou o que pensava e remeteu explicações para quando fosse eleito (belo pensamento: colhe o voto, explica depois). Mais tarde, porém, pôde retomar o assunto, fazendo notar que o PSD já antes havia aprovado a ideia. A máquina socialista não dormiu enquanto não conseguiu tornar o deslize do seu candidato em arma de arremesso, dando-lhe, depois disso, autorização para falar de novo.
Vê-se bem nisto que o discurso do poder é todo ele imagem, uma coisa fabricada que, quando interrompida pela honestidade, se acanha e panica. Vital, o candidato «independente», enquanto títere do governo, é, sem dúvida, o mais constrangido de todos os cabeças-de-lista (está claramente proibido de dizer o que pensa de Durão Barroso, por exemplo). Entende-se, face a esta sensação de farsa, porque razão a abstenção prevista é tão grande. Confrontados com a proposta de tornar o voto obrigatório, os partidos manifestaram-se unanimemente contra. É fácil desmanchar a aparente contradição entre este seu repúdio e o cerrado combate que têm travado contra a prevista abstenção. Com o voto obrigatório, a abstenção de hoje redundaria num gigantesco número de votos nulos/em branco, vexame ingrato de toda a classe. Os políticos estão apenas a proteger-se a si próprios – é a sobrevivência da espécie: pois não é este o ano Darwin?
Também o PS procura tirar dividendos do fenómeno Obama: num dos seus tempos de antena, são exibidas várias fotos de Sócrates com o presidente americano, não se percebe bem porquê. Se bem me recordo, o candidato do PS é Vital Moreira, não o primeiro-ministro (antes fora: sinal que nos deixava!). Quiçá as imagens sejam uma referência à contratação para as Legislativas, por parte de Sócrates, da empresa que preparou o lado multimédia da campanha de Obama. Na impossibilidade de imitar o conteúdo, imita-se o estilo. Falta ao PS – e à nossa política em geral – o discurso de verdade sobre o qual Obama ergueu a sua vitória.
Estude-se o que aconteceu entre nós com a sugestão de criação de um imposto europeu, avançada por Vital Moreira. Pouco me importa aqui a ideia em si, antes a tomo como exemplum da construção da mensagem política. Vital Moreira, servente fiel de Sócrates, é, apesar de tudo, inteligente demais para não ter opiniões próprias: ei-lo pois a sugerir a criação de um imposto europeu. As hostes rosa perceberam rápidas o erro da coisa e, no dia seguinte, depois de todas as críticas de que fora alvo, Vital Moreira, em obediência aos estrategos de campanha, calou o que pensava e remeteu explicações para quando fosse eleito (belo pensamento: colhe o voto, explica depois). Mais tarde, porém, pôde retomar o assunto, fazendo notar que o PSD já antes havia aprovado a ideia. A máquina socialista não dormiu enquanto não conseguiu tornar o deslize do seu candidato em arma de arremesso, dando-lhe, depois disso, autorização para falar de novo.
Vê-se bem nisto que o discurso do poder é todo ele imagem, uma coisa fabricada que, quando interrompida pela honestidade, se acanha e panica. Vital, o candidato «independente», enquanto títere do governo, é, sem dúvida, o mais constrangido de todos os cabeças-de-lista (está claramente proibido de dizer o que pensa de Durão Barroso, por exemplo). Entende-se, face a esta sensação de farsa, porque razão a abstenção prevista é tão grande. Confrontados com a proposta de tornar o voto obrigatório, os partidos manifestaram-se unanimemente contra. É fácil desmanchar a aparente contradição entre este seu repúdio e o cerrado combate que têm travado contra a prevista abstenção. Com o voto obrigatório, a abstenção de hoje redundaria num gigantesco número de votos nulos/em branco, vexame ingrato de toda a classe. Os políticos estão apenas a proteger-se a si próprios – é a sobrevivência da espécie: pois não é este o ano Darwin?
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