Começou, portanto, a corrida para as Europeias. Por serem as primeiras eleições em que iria votar, como um édipo, ceguei-me voluntariamente, esqueci o passado todo, como uma alma platónica que tropeçasse do céu das Ideias e, incarnada, não lembrasse nada do outro mundo: decidi-me a, com a ingenuidade possível, julgar com imparcialidade os vários partidos pelas suas propostas, ignorando tudo o mais que soubesse deles e, sobretudo, a sua actuação política nacional. Quando os candidatos dos cinco principais partidos acorreram ao Prós & Contras, fiquei, mau grado a minha falta de tempo, a ver – só para rapidamente, findo o primeiro intervalo, me ir embora.
Esperara ouvir as opiniões dos vários cabeças-de-lista dos partidos sobre o Tratado de Lisboa, a possível entrada da Turquia na UE, o problema da imigração ilegal ou as questões mais prementes de política externa. Sobre isto, porém, nada se falou (só da recondução de Durão Barroso). Vai-se de resto aos sites dos partidos principais e não se acha sobre isto um programa, um manifesto, uma declaração de ideias, propostas, uma visão sobre a Europa, em suma. As Europeias estão a mostrar-se, uma vez mais, um mau ensaio para as Legislativas.
Para o confirmar, basta ver como Vital Moreira, já por várias vezes, pediu uma maioria para Sócrates, assegurando que, caso o eleitorado não lha conceda, compromete seriamente a estabilidade do país. O candidato do PS já afirmou mesmo que, caso Sócrates não reuna a maioria dos votos, é possível que apresente a sua demissão. Eis, pois, o PS insistindo na estratégia que lhe é própria, a do medo, a qual tem consistentemente definido a sua legislatura pelo menos desde o caso Charrua, provando-o como inimigo da liberdade, que comparece no 25 de Abril, todavia, que é uma festa bonita que se faz todos os anos a celebrar uma coisa que aconteceu e dizem todos ao mesmo tempo não estar cumprida, sem que ninguém note o paradoxo parvo (mas celebre-se, que o povo gosta é de festa, nem que a ocasião seja a inauguração da Praça Salazar a 25 de Abril – oxímoro!: o importante é haver os foguetes e a comida – nisso somos como os hobbits, gente pequena para um país pequeno).
Exemplo recente: a Ordem dos Notários pediu aos seus membros que recolhessem todas as escrituras em que Sócrates interveio para as disponibilizar a uma jornalista que as havia solicitado. Este trata-se, diga-se, de um serviço normal prestado pela Ordem a qualquer cidadão. O governo, porém, veio já considerar tudo isto “muito grave”, algo que “põe em causa os direitos fundamentais” e “não é admissível num Estado de direito” – apenas, claro, porque o primeiro-ministro é visado. Sócrates, aparentemente, é, para o PS, como um corpo de grande massa no universo einsteiniano: junto a ele, o tecido do espaço-tempo – as regras da «festa da democracia» – curva-se particularmente, deforma-se. Assim só se entendem os apelos de Vital Moreira. É que já aconteceu partidos ganharem as eleições sem, contudo, terem maioria absoluta: o governo eleito não deixou de governar. Sócrates, porém, enquanto the special one, por quem toda a ordem das coisas se altera, necessita mesmo da maioria.
Entendo que o PS comece a insistir nesta mensagem. A forma calorosa como Vital Moreira foi recebido pelos populares no 1 de Maio revela obscenamente a um primeiro-ministro na terra das fadas como o seu país maravilha ferve de indignação. O desemprego, que teve agora a maior subida das últimas três décadas, alastra como a gripe suína. A crise, agravando-se, é, de facto, a única coisa que poderá evitar a vitória de Sócrates. E Sócrates tem um medo genuíno disso. Eis, pois, aqui, a farsa a descoberto: aqueles que usam a arma do medo são, precisamente, aqueles que mais medo têm.
Para o confirmar, basta ver como Vital Moreira, já por várias vezes, pediu uma maioria para Sócrates, assegurando que, caso o eleitorado não lha conceda, compromete seriamente a estabilidade do país. O candidato do PS já afirmou mesmo que, caso Sócrates não reuna a maioria dos votos, é possível que apresente a sua demissão. Eis, pois, o PS insistindo na estratégia que lhe é própria, a do medo, a qual tem consistentemente definido a sua legislatura pelo menos desde o caso Charrua, provando-o como inimigo da liberdade, que comparece no 25 de Abril, todavia, que é uma festa bonita que se faz todos os anos a celebrar uma coisa que aconteceu e dizem todos ao mesmo tempo não estar cumprida, sem que ninguém note o paradoxo parvo (mas celebre-se, que o povo gosta é de festa, nem que a ocasião seja a inauguração da Praça Salazar a 25 de Abril – oxímoro!: o importante é haver os foguetes e a comida – nisso somos como os hobbits, gente pequena para um país pequeno).
Exemplo recente: a Ordem dos Notários pediu aos seus membros que recolhessem todas as escrituras em que Sócrates interveio para as disponibilizar a uma jornalista que as havia solicitado. Este trata-se, diga-se, de um serviço normal prestado pela Ordem a qualquer cidadão. O governo, porém, veio já considerar tudo isto “muito grave”, algo que “põe em causa os direitos fundamentais” e “não é admissível num Estado de direito” – apenas, claro, porque o primeiro-ministro é visado. Sócrates, aparentemente, é, para o PS, como um corpo de grande massa no universo einsteiniano: junto a ele, o tecido do espaço-tempo – as regras da «festa da democracia» – curva-se particularmente, deforma-se. Assim só se entendem os apelos de Vital Moreira. É que já aconteceu partidos ganharem as eleições sem, contudo, terem maioria absoluta: o governo eleito não deixou de governar. Sócrates, porém, enquanto the special one, por quem toda a ordem das coisas se altera, necessita mesmo da maioria.
Entendo que o PS comece a insistir nesta mensagem. A forma calorosa como Vital Moreira foi recebido pelos populares no 1 de Maio revela obscenamente a um primeiro-ministro na terra das fadas como o seu país maravilha ferve de indignação. O desemprego, que teve agora a maior subida das últimas três décadas, alastra como a gripe suína. A crise, agravando-se, é, de facto, a única coisa que poderá evitar a vitória de Sócrates. E Sócrates tem um medo genuíno disso. Eis, pois, aqui, a farsa a descoberto: aqueles que usam a arma do medo são, precisamente, aqueles que mais medo têm.
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