
No final do mês de Julho, Manuela Ferreira Leite afirmou rejeitar a «dicotomia ricos-pobres», confessando mesmo, num tom bem-disposto: «Em relação aos ricos, há apenas um sentimento que tenho e que é: tenho pena de não o ser». Face à negação do óbvio (sempre o tipo favorito de coisas para se negar em política) – o profundo fosso entre ricos e pobres no nosso país – pareceu-me que seria educativo recuperar do meu arquivo alguns cabeçalhos e notícias dos últimos dois anos:
“Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística em Outubro de 2007 calculavam em dois milhões o número de pobres em Portugal, o que equivale a um terço da população entre os 16 e os 64 anos”. (Maio de 2008, Público).
“Em 2007, o rendimento monetário líquido equivalente dos 20 por cento da população com maiores recursos correspondia a 6,1 vezes o rendimento dos 20 por cento da população com mais baixos recursos”. (Julho de 2009, Público).
“As disparidades na repartição dos rendimentos em Portugal têm sido ligeiramente atenuadas mas, em 2006, o país ainda tinha a segunda pior classificação da União Europeia, segundo dados do Eurostat”. (Maio de 2008, Público).
“Uma em cada cinco crianças portuguesas está exposta ao risco de pobreza, o que faz de Portugal o país da União Europeia, a seguir à Polónia, onde as crianças são mais pobres ou correm maior risco de cair nessa situação”. (Fevereiro de 2008, Diário de Notícias).
A líder do PSD ignora alegremente todos estes factos e louva os ricos e fica contente que dêem festas e que comprem muitas coisas e que tenham iates (é que tudo isto «dá postos de trabalho a dezenas de pessoas», mesmo se o desemprego é de centenas de milhares). Há algo de profundamente perverso nestas afirmações que revelam uma incapacidade de entender o que está de errado com a riqueza nos nossos tempos. É toda a lógica do luxo e do consumismo acéfalo que é simultaneamente imoral e anti-ecológica. Sei o quão estranho é hoje falar em moralidade, pelas conotações religiosas da palavra, num tempo em que até a FIFA quer agora proibir os jogadores de se ajoelharem quando marcam (porque não se pode confundir futebol com religião, dizem, mas o mais certo é ser uma estratégia para esmagar os outros operadores no ramo). Sejamos, pois, modernos e mandemos a moral bugiar e esqueçamos os recursos limitados da Terra e isso. Sabem: a coisa boa de ser corvo é que posso ir a todas as festas dos ricos sem ser convidado (têm sempre as janelas abertas!).
“Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística em Outubro de 2007 calculavam em dois milhões o número de pobres em Portugal, o que equivale a um terço da população entre os 16 e os 64 anos”. (Maio de 2008, Público).
“Em 2007, o rendimento monetário líquido equivalente dos 20 por cento da população com maiores recursos correspondia a 6,1 vezes o rendimento dos 20 por cento da população com mais baixos recursos”. (Julho de 2009, Público).
“As disparidades na repartição dos rendimentos em Portugal têm sido ligeiramente atenuadas mas, em 2006, o país ainda tinha a segunda pior classificação da União Europeia, segundo dados do Eurostat”. (Maio de 2008, Público).
“Uma em cada cinco crianças portuguesas está exposta ao risco de pobreza, o que faz de Portugal o país da União Europeia, a seguir à Polónia, onde as crianças são mais pobres ou correm maior risco de cair nessa situação”. (Fevereiro de 2008, Diário de Notícias).
A líder do PSD ignora alegremente todos estes factos e louva os ricos e fica contente que dêem festas e que comprem muitas coisas e que tenham iates (é que tudo isto «dá postos de trabalho a dezenas de pessoas», mesmo se o desemprego é de centenas de milhares). Há algo de profundamente perverso nestas afirmações que revelam uma incapacidade de entender o que está de errado com a riqueza nos nossos tempos. É toda a lógica do luxo e do consumismo acéfalo que é simultaneamente imoral e anti-ecológica. Sei o quão estranho é hoje falar em moralidade, pelas conotações religiosas da palavra, num tempo em que até a FIFA quer agora proibir os jogadores de se ajoelharem quando marcam (porque não se pode confundir futebol com religião, dizem, mas o mais certo é ser uma estratégia para esmagar os outros operadores no ramo). Sejamos, pois, modernos e mandemos a moral bugiar e esqueçamos os recursos limitados da Terra e isso. Sabem: a coisa boa de ser corvo é que posso ir a todas as festas dos ricos sem ser convidado (têm sempre as janelas abertas!).
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