
Conservo ainda da minha estadia em terra alheia o hábito de, no meu jogging diário pela internet, visitar as páginas dos principais jornais ingleses. Grande foi o meu espanto – grande como aquele espanto que, Aristóteles dixit, está no parto da Filosofia – quando encontrei a notícia: Alfie, o puto com cara de nove anos, e a sua namorada teenager de quinze eram pais. Uma coisa destas, obviamente, transbordou e, alguns dias depois, os nossos jornais também já estudavam o caso, vindo a lume na mesma semana em que, curiosamente, por cá, se discutia esse assunto vetusto, de barbas: a introdução de educação sexual nas escolas, projecto que acabou por ser aprovado no Parlamento.
Casos aberrantes, mas reais, como o de Alfie, mostram que as doze horas por ano que, doravante, os alunos forçosamente terão sobre esta matéria são importantes. O busílis da questão está todo no conteúdo das ditas cujas. Exemplo: o governo inglês – isto é outra daquelas notícias que uma pessoa pesca na Rede – vai começar brevemente a distribuir panfletos dirigidos aos pais em que os aconselha a, quando falarem com os filhos sobre sexo, não tentarem convencê-los do que está certo ou errado, porque isso, dizem, pode levar a que eles não sejam “abertos”. Apetecia-me acabar a crónica aqui, deixar o leitor de olhos fechados, como quem percebe que um grande erro acabou de ser feito, a levar a mão com força à testa, como quem se lembra que não jogou no euromilhões (está mal, pois está mal).
Esta incapacidade moderna de dizer sim sim, não não prende-se directamente com a transformação do politicamente correcto no valor moral por excelência dos tempos de hoje. O politicamente correcto não admite as categorias de certo ou errado e faz de tudo uma mixórdia em nome de uma tolerância que, na maioria dos casos, é apenas um eufemismo para a indiferença. Toda a educação sexual que seja, de facto, educação, terá sempre uma concepção comprometida – isto é, não neutra – da sua matéria: não dá para brincar à Suíça.
O que é necessário é pois uma educação para os afectos. As gravidezes adolescentes não resultam, em geral, de um desconhecimento dos métodos contraceptivos ou do kamasutra: os Morangos Com Açúcar encarregam-se dessa pedagogia. O que é preciso é ensinar o significado e o tempo do sexo e a verdadeira natureza do amor. Num tempo do corpo, cultivar a alma: reensinar os miúdos a sentir, a escrever cartas de amor ridículas como as palavras esdrúxulas do Campos (já o professor Keating, no Clube dos Poetas Mortos, dizia, com verdade, que a linguagem se desenvolvera com o objectivo único de cortejar as mulheres). A alma educa-se, os afectos aprendem-se: toda a literatura universal é um manual de amor gigante. Infelizmente, Alfie não parece ser grande adepto dos livros: prefere, como o provam as fotografias do Sun, a Playstation. A vida, para ele, poderá ter sido, até hoje, uma brincadeira. Agora que o seu filho nasceu, sobre um futuro preto, as palavras: game over.
Casos aberrantes, mas reais, como o de Alfie, mostram que as doze horas por ano que, doravante, os alunos forçosamente terão sobre esta matéria são importantes. O busílis da questão está todo no conteúdo das ditas cujas. Exemplo: o governo inglês – isto é outra daquelas notícias que uma pessoa pesca na Rede – vai começar brevemente a distribuir panfletos dirigidos aos pais em que os aconselha a, quando falarem com os filhos sobre sexo, não tentarem convencê-los do que está certo ou errado, porque isso, dizem, pode levar a que eles não sejam “abertos”. Apetecia-me acabar a crónica aqui, deixar o leitor de olhos fechados, como quem percebe que um grande erro acabou de ser feito, a levar a mão com força à testa, como quem se lembra que não jogou no euromilhões (está mal, pois está mal).
Esta incapacidade moderna de dizer sim sim, não não prende-se directamente com a transformação do politicamente correcto no valor moral por excelência dos tempos de hoje. O politicamente correcto não admite as categorias de certo ou errado e faz de tudo uma mixórdia em nome de uma tolerância que, na maioria dos casos, é apenas um eufemismo para a indiferença. Toda a educação sexual que seja, de facto, educação, terá sempre uma concepção comprometida – isto é, não neutra – da sua matéria: não dá para brincar à Suíça.
O que é necessário é pois uma educação para os afectos. As gravidezes adolescentes não resultam, em geral, de um desconhecimento dos métodos contraceptivos ou do kamasutra: os Morangos Com Açúcar encarregam-se dessa pedagogia. O que é preciso é ensinar o significado e o tempo do sexo e a verdadeira natureza do amor. Num tempo do corpo, cultivar a alma: reensinar os miúdos a sentir, a escrever cartas de amor ridículas como as palavras esdrúxulas do Campos (já o professor Keating, no Clube dos Poetas Mortos, dizia, com verdade, que a linguagem se desenvolvera com o objectivo único de cortejar as mulheres). A alma educa-se, os afectos aprendem-se: toda a literatura universal é um manual de amor gigante. Infelizmente, Alfie não parece ser grande adepto dos livros: prefere, como o provam as fotografias do Sun, a Playstation. A vida, para ele, poderá ter sido, até hoje, uma brincadeira. Agora que o seu filho nasceu, sobre um futuro preto, as palavras: game over.
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