Fui comprar o jornal. Ao chegar à tabacaria, um homem discutia avidamente com o vendedor, mas a matéria não era o regatear de um preço. Dizia o comprador que o 9/11 não era mais que uma conspiração bem organizada pelo governo americano, já que um edifício daquela altura, comprovavam-no as afirmações de engenheiros, não podia ruir com o simples embate de um avião, como o demonstravam documentários agora finalmente revelados. Outro senhor ao lado ratificava a postura de desconfiança, expondo as semelhanças óbvias entre uma implosão propositada e a queda das torres. E o vendedor, coitado, não assentia nem negava, porque o cliente tem sempre razão, até quando a não tem.
Este episódio é sintomático de tantas conversas que tenho escutado entre amigos desde que a RTP transmitiu o documentário Loose Change (cuja tradução portuguesa do título, lamentavelmente, desconheço), que emitiu mais três vezes, mostra da sua popularidade. Quando o vi na 2:, alertado por um amigo, acabei por abandonar o filme, cansado de tanta teoria tola. Não o levei a sério, mas mais como um exercício de humor negro pelo canal público. Quando, contudo, membros da comunidade muçulmana – que de modo algum considero representativos da opinião da mesma, no Prós & Contras que opôs Soares e Pacheco Pereira, baseados em Loose Change apresentaram as suas dúvidas tímidas quanto à veracidade do 9/11, entendi, enfim, o alcance daquele pequeno filme. Amigos meus começaram também a pôr em questão a versão oficial, alguns rendendo-se mesmo em absoluto ao documentário e suas «provas».
Se Pacheco Pereira condena a RTP por ter posto no ar tal peça, eu não a censuro, pois, inserida numa série de documentários sobre o mesmo assunto, representou, para aqueles com distanciamento crítico, um lado, ridículo, mas existente, do 11 de Setembro. Porém, vendo a confusão que originou, tenho de confessar que entendo Pacheco Pereira. Esta teoria é semelhante às que negam que o homem alguma vez esteve na lua: ambas inconsistentes. Satirizando, eu e o amigo que me avisara do documentário juntámo-nos para filmar uma tese que já anteriormente apresentei neste espaço, a de que Antero de Quental é o verdadeiro responsável pelos atentados – julgo, sinceramente, que a nossa produção é tão credível como aquela que a 2: revelou e enviaremos esperançosamente o nosso filme para a emissora pública.
Brincadeiras de parte, é preocupante a facilidade com que as pessoas caíram na armadilha, pelo que urge desmontá-la. Se nenhum avião embateu contra o Pentágono e se o voo 93 nunca caiu na Pensilvânia, então, quem choram os familiares das vítimas? E onde estão aqueles que, assim sendo, não morreram? O documentário afirma que os terroristas não estão mortos, mas não explica o paradeiro dos tripulantes, supostamente, por necessidade lógica, também vivos. Mais, como pode a queda das torres ser devida a uma implosão premeditada vinda da cave dos edifícios (como pretende o documentário) se a queda destas sucede não a partir da base, mas a partir do topo, como é facilmente observável? Para além disso, se o 9/11 não é mais que uma conspiração americana, foram então também os americanos os responsáveis pelo 11 de Março espanhol e pelo 7 de Julho inglês? Isto para partilhar apenas as indagações mais pertinentes.
Uma coisa é afirmar que o 9/11 serviu como pretexto à invasão do Iraque – como o faz o Fahrenheit 9/11 de Moore – outra, que os atentados foram provocados para servirem de desculpa a essa mesma invasão. Eu, que discordo na generalidade da política levada a cabo por Bush e que continuo a declarar que a guerra do Iraque foi um erro, não deixo que as minhas opiniões me conduzam a uma deturpação do real desse nível. Só se estivesse (cons)pirado...
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