Entre grande escândalo e censura desvelou o Presidente da República, na cerimónia parlamentar do 25 de Abril, a ignorância dos jovens a nível de questões políticas. Aflito, apontou os criminosos, e não ilibou os partidos. Teve o mérito, pelo menos, de, durante, digamos, uma semana, ter posto meio Portugal a discutir o assunto. Sou o primeiro a reconhecer que os resultados do estudo da Universidade Católica encomendado especialmente por Cavaco Silva para o efeito são, a seu modo, preocupantes. No meio da discussão que se ergueu, porém, poucos atentaram no resto das conclusões do inquérito, tão ou mais interessantes do que as outras.
Leio uma síntese dos resultados do estudo. Os jovens, dizem, desvalorizam o voto como instrumento político, considerando-o pouco eficaz. Queixam-se da oferta partidária existente (metade não se identifica com partido algum) e da dicotomia esquerda/direita em que o debate político parece mover-se ainda (consideram esta distinção irrelevante, aliás). Estão ansiosos por reformas, profundas, e parte afirma mesmo a necessidade de uma mudança radical. Defendem uma maior taxa de mulheres em cargos políticos, novas formas, mais eficazes, que facilitem aos cidadãos a participação na tomada de decisões políticas. Valorizam mais os candidatos que os partidos – e argumentam a favor desta mudança de foco. Colocam a política em último lugar, sepultada: “outro valor mais alto se alevanta”, como a família, amigos, hobbies, religião, voluntariado ou o trabalho. Assinam muitas petições e não hesitam em boicotar produtos.
Leio tudo isto – e revejo-me no retrato. Penso em tantos dos meus colegas e amigos – e sinto-os iguais. A política em Portugal, entre jovens – seja-me permitida a aproximação – sofre hoje o mesmo mal que a religião: a simples menção dela é suficiente para afastar os potenciais ouvintes. Tenho um amigo meu que – e isto, acreditai-me!, é verídico –, quando, em dia triste, pretende enxotar a depressão sentimental, vê a ARtv, o Canal Parlamento, para se rir e animar. Compreendo-o e, tivera eu tempo para ver televisão (só a estreia da quarta temporada de Perdidos, no próximo domingo, me arrastará de novo, tal força da gravidade, para o sofá da sala) partilharia do seu entretenimento. Os políticos, em regra, falam mal e falam mentira: como querem que os queiramos ouvir? Os poucos que se filiam em partidos não o fazem tanto por convicção como por esperança de que, no futuro, isso lhes possa ser útil (os partidos são ainda redes de clientelas). Há, pois, os que têm cartão de sócio – e outros que não passam cartão nenhum aos partidos.
Hoje são eles, espante-se!, o principal problema da democracia. Tal como a vanguarda revolucionária comunista, se conseguiu tomar o poder, pela sua dedicação total a esse fito, perdeu de vista a realidade daqueles que, teoricamente, dizia servir, assim, do mesmo modo, todos os partidos hoje, obcecados em conseguir uma fatia do bolo guloso do poder, esqueceram o povo – e o povo futuro, os jovens, esqueceram-nos, por sua vez: perante “gente surda e endurecida”, melhor ficar calado. Errado, contudo, seria supor que tal visão significaria uma resignação dos jovens. Pelo contrário, face à falência evidente dos partidos como corpos efectivamente capazes de solucionar os problemas que nos atingem, os jovens assumem eles as responsabilidades. O estudo da Universidade Católica confirmava isso: se poucos se inscrevem em Juventudes partidárias, muitos, porém, entregam-se a projectos de voluntariado.
A grande reinvenção da democracia, creio, ocorrerá precisamente no tempo em que os partidos forem relegados para segundo plano, deixando de ser a força omnívora no esquema político. Não sei exactamente em que moldes tal operação se processará, mas é a ela que se referem os jovens do inquérito quando falam em “reformas profundas”. Recordemos: a nossa é uma jovem democracia – está só a atravessar a idade do armário: por isso os jovens a entendem.
Leio tudo isto – e revejo-me no retrato. Penso em tantos dos meus colegas e amigos – e sinto-os iguais. A política em Portugal, entre jovens – seja-me permitida a aproximação – sofre hoje o mesmo mal que a religião: a simples menção dela é suficiente para afastar os potenciais ouvintes. Tenho um amigo meu que – e isto, acreditai-me!, é verídico –, quando, em dia triste, pretende enxotar a depressão sentimental, vê a ARtv, o Canal Parlamento, para se rir e animar. Compreendo-o e, tivera eu tempo para ver televisão (só a estreia da quarta temporada de Perdidos, no próximo domingo, me arrastará de novo, tal força da gravidade, para o sofá da sala) partilharia do seu entretenimento. Os políticos, em regra, falam mal e falam mentira: como querem que os queiramos ouvir? Os poucos que se filiam em partidos não o fazem tanto por convicção como por esperança de que, no futuro, isso lhes possa ser útil (os partidos são ainda redes de clientelas). Há, pois, os que têm cartão de sócio – e outros que não passam cartão nenhum aos partidos.
Hoje são eles, espante-se!, o principal problema da democracia. Tal como a vanguarda revolucionária comunista, se conseguiu tomar o poder, pela sua dedicação total a esse fito, perdeu de vista a realidade daqueles que, teoricamente, dizia servir, assim, do mesmo modo, todos os partidos hoje, obcecados em conseguir uma fatia do bolo guloso do poder, esqueceram o povo – e o povo futuro, os jovens, esqueceram-nos, por sua vez: perante “gente surda e endurecida”, melhor ficar calado. Errado, contudo, seria supor que tal visão significaria uma resignação dos jovens. Pelo contrário, face à falência evidente dos partidos como corpos efectivamente capazes de solucionar os problemas que nos atingem, os jovens assumem eles as responsabilidades. O estudo da Universidade Católica confirmava isso: se poucos se inscrevem em Juventudes partidárias, muitos, porém, entregam-se a projectos de voluntariado.
A grande reinvenção da democracia, creio, ocorrerá precisamente no tempo em que os partidos forem relegados para segundo plano, deixando de ser a força omnívora no esquema político. Não sei exactamente em que moldes tal operação se processará, mas é a ela que se referem os jovens do inquérito quando falam em “reformas profundas”. Recordemos: a nossa é uma jovem democracia – está só a atravessar a idade do armário: por isso os jovens a entendem.
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