17 June 2005

Youth Of The Nation - I

O título desta crónica é homónimo duma música dos P.O.D. cujo refrão é precisamente este grito cantado pelo vocalista e um coro de jovens: We are the youth of the nation (“Nós somos a juventude da nação”). A letra acaba, contudo, por revelar a delinquência, violência e decadência da massa escolar de alunos, mostrando bem que juventude da nação é aquela apregoada pelo cantor. Enquanto jovem, não posso deixar de reflectir sobre a minha condição e a da minha faixa etária: o nosso estado, os nossos objectivos, os nossos problemas, a nossa identidade. Os jovens são a minha comunidade, a juventude é a minha sociedade. Porém, eu olho em volta, volto a face e peço que me enterrem a cabeça na areia, tal avestruz, porque não encontro luz ao fundo do túnel para os meus irmãos.

Sinto, apalpo mesmo, nos seus rostos e nas suas mentes, em tantos, uma indiferença a que tudo votam indiferentemente. São agnósticos do mundo. Face a qualquer assunto, encolhem ombros, enrugam a face, calam a boca: nada é objecto de opinião entre eles – opinar é trabalhoso, empinar ideias feitas, menos moroso. É este o nosso tempo: a era dor produtos light, a época do microondas. Um tempo em que se compra tudo em pó e do pó tudo se ergue ao fim de cinco minutos, para logo a gula o consumir e tornar pó de novo. Um tempo em que Roma e Pavia são feitas num dia, porque só para um dia são precisas. Vivemos num mundo descartável.

Para quem, contudo, a mente deixa dormente, mente-se se se disser que são ideias complexas, essas que os jovens na sua preguiça tomam para si. Não, tudo se resume a escassos esquissos, e não porque a obra final ainda está longe, mas porque não interessa mais do que ter a ideia geral. É este o nosso tempo: o tempo dos livros de resumos e dos resumos dos resumos, onde a informação é em segunda mão e, assim, é o tempo do ouvi dizer que se ouviu falar, dos boatos que batem em campanhas eleitorais e tantas situações mais. É o período da segunda mão que a criação é dolorosa e custosa, e ninguém quer ter calos nos dedos.

Esta indiferença, este contentamento com a contenção do saber, com o não ter mais que meio rabisco sobre tudo, incomoda-me, mais ainda porque se mostra como moda, numa soberba de exibir ignorância que me recorda a nobreza doutros tempos e que aqui encontra a sua reencarnação, numa massa jovem que se sacrifica por tendências voláteis, por um consumo que é sumiço do dinheiro que nem é seu. Como bicha-solitária, esta juventude definha as finanças da casa para satisfação do seu egoísmo, em vez de tudo arranjar por si mesma para si mesma, numa solidão que lhe dita o nome com que a coroo. Coro de vergonha por ver que esta juventude que é a minha não sonha com nada mais alto, não quer dar o salto para um futuro incerto.

Este materialismo é só o reflexo do niilismo intelectual a que tudo se reduz entre os jovens. A quota que era do espírito transborda na ânsia de satisfação para a carne e aí procura o colmatar da mente que lhe falta. Não percebem que o saber tem uma vantagem: não ocupa lugar. Mas os brinquedos que adquirem para distracção da inocuidade em que transformam as vidas deles não cabem para sempre nos recantos em que os armazenam. A necessidade de ter enche-lhes a alma e logo, pois, para que o novo venha, deitam fora o velho. A tudo é dado prazo de validade – perdeu-se a noção de eternidade. Ninguém mais luta por vencer a memória curta humana, por se imprimir eterno nas páginas da história, por ser herói e artista. Quer-se tudo temporário, porque compromissos a longo prazo são promessas que não agradam fazer, porque só uma regra lhes parece regular a vida: o devir, a mudança, uma perpétua dança entre experiências. Os jovens hoje são atletas que passam a vida a mudar de pista, mas nunca arrancam da partida, porque nem sequer têm meta ou mote que os guie... o corvo

Publicado a 6 de Abril de 2005

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