Um amigo meu de longa data, filiado desde o início deste ano numa juventude partidária coimbrã, falando comigo numa noite cibernética, contou-me que fora convidado para ser representante dos alunos do ensino secundário na comissão política dessa organização. Honrado com a proposta, aceitou-a. Apesar da minha postura reticente face aos partidos, não pude deixar de me alegrar com o sucesso deste meu colega. A propósito deste acontecimento, iniciámos um curto debate sobre a educação, nomeadamente a secundária – a que nos diz mais respeito. Dessa conversa amena surgiu uma série de ideias reformadoras que estão na base desta crónica.
1. As turmas deviam ser mais reduzidas. É um lugar-comum da pedagogia, mas a verdade é que na mais recente manifestação das associações de estudantes não era uma reivindicação, dando-se primazia a outros assuntos como o fim dos exames nacionais. A título de exemplo, a minha classe contém em si três diferentes que se fundiram numa só, o que leva a uma desigualdade de horários escolares tremenda: enquanto há colegas que usufruem de três tardes livres, um outro terço da turma só goza duma. E, é certo e sabido, quanto menos alunos, tanto mais a aprendizagem tende a ser mais efectiva e proveitosa.
2. A inexistência duma tal variedade de manuais escolares. Se o meu amigo pretendia um livro único, eu, não chegando a esse extremo, admito, todavia, apenas duas ou três variantes. Isto é, para uma disciplina dum dado ano de escolaridade, as escolas só devem poder optar por um número limitado de manuais, de modo a que haja uma muito maior homogeneidade entre os estabelecimentos de ensino do nosso país. É espantoso constatar que hoje em dia a mesma editora chega a oferecer dois ou três manuais para a mesma matéria. A aplicação desta norma facilitaria muito mais a transferência de escola a meio do ano lectivo para os alunos que o fizessem.
3. Uma efectiva intervenção do Estado, com um órgão controlador tanto do preço como da qualidade. É vergonhoso o peso no orçamento familiar que os manuais têm no início do ano lectivo. Outra forma de o reduzir seria assegurar a continuidade dos manuais escolares por um período de tempo mais longo do que o actual, de modo a que os irmãos pudessem, sempre que possível, reaproveitá-los.
4. A mudança profunda dos programas. O caso mais notório que eu e o meu parceiro de discussão comentámos foi o da disciplina de inglês, essa tal que agora também teremos na primária. O programa de inglês ao longo do básico e secundário é simplesmente infantil e ridículo, consistindo, a partir sensivelmente do meio do percurso escolar, duma recapitulação do anteriormente dado, que por si é tremendamente insuficiente para o nível de inglês que é exigido para a sociedade global em que vivemos. Em virtude disto, a maioria dos estudantes é simplesmente medíocre, incapaz de manter uma conversa de nível médio-alto durante um período médio-longo, sem bases para entender um texto literário ou escrever uma carta formal.
5. Fala-se em prolongar o ensino obrigatório até ao décimo segundo ano. Não tendo uma posição definida sobre o assunto, considero, porém, mais importante que se torne obrigatória a creche, que, sendo já uma prática muito comum em Portugal, merecia, contudo, um maior destaque, mais apoio económico e um maior desenvolvimento. ■ o corvo
Publicado a 4 de Maio de 2005
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