17 June 2005

A Lição da Educação - II

Continuando a crónica iniciada há quinze dias, aqui se apresenta a segunda vaga de propostas para um melhor sistema de ensino em Portugal; sugestões estas resultantes das minhas próprias ideias e dum debate com um colega.

6. Obrigatoriedade de exames nacionais de final de ciclo. Uma das principais razões da gigante taxa de iliteracia portuguesa é o facto de, em nome do não elitismo do sistema, consecutivamente se transitarem alunos aquém dos objectivos que deveriam ter atingido. Uma forma de evitar esses favorecimentos, a meu ver, merecedores de tanto repúdio como uma cunha, passa pela efectivação da medida proposta. Caminha-se já em Portugal para essa situação e não se deve nunca ceder às exigências dos estúrdios que reclamam o cessar de tais avaliações e o fim da nota mínima de entrada na universidade. No dia 22 de Abril, o Ministro Mariano Gago reafirmou a sua determinação na obrigatoriedade da nota mínima de 9,5 para entrada nas universidades para assegurar um ensino superior de qualidade mínima. O facto de um governante ter de proclamar isto é a prova suprema de que vivemos numa país retrógrado. Se dúvidas ainda restassem do nosso atraso, basta rir-se com as declarações doutros sectores políticos acusando o ministro de ainda mais favorecer o elitismo do ensino. Sem nota mínima, onde estariam os valores do trabalho, do esforço, do mérito pessoal? É importante a afirmação e valorização do labor de cada indivíduo.

7. Redução dos agrupamentos e maior versatilidade na passagem entre eles. A nova reforma do secundário, entrada em vigor este ano lectivo, só complicou mais a vida aos alunos de nono ano que, face a uma maior gama de ofertas, cada vez mais especializadas, são obrigados a fazer uma escolha vital cada vez mais cedo. Isto só vem entravar a mudança de agrupamento numa fase posterior que só com quatro áreas já é complicada.

8. Forte redução da carga horária. Esta é claramente excessiva e nem a introdução das famosas aulas de noventa minutos a solucionou, porque o tempo que se perdeu com elas (cinco minutos por cada hora, em comparação com os horários antigos), foi somado e recuperado em novos blocos rotativos destinados a retomar esse tempo perdido. As manhãs livres deviam acabar e serem substituídas por tardes, o que é muito mais proveitoso. Já no básico, poder-se-ia acabar com disciplinas sem sentido como Estudo Acompanhado e Área de Projecto; tudo disciplinas que visam desenvolver o lado social do aluno, sem entenderem que isso é tarefa multidisciplinar, comum da família, amigos e sociedade em geral.

9. Mudança do currículo no secundário. Devia acabar a separação entre Português A e B e a Matemática devia tornar-se obrigatório para todos os agrupamentos, sem simplificações para os não-científicos. Isso evitaria muitas falsas vocações (sempre, contudo, cada vez menores) em Humanidades, para além de fornecer aos alunos uma bagagem intelectual imprescindível.

10. Fim de todas as reformas educativas, pelo menos durante um longo período. Acaba por ser frustrante e péssimo em termos de estabilidade educativa as constantes reformas que os diferentes governos promulgam e que de ano para ano mudam tudo, frequentemente para pior. Há que elaborar um pacote radical e profundo de alterações que reúna um vasto consenso partidário (ou, pelo menos, de dois terços da Assembleia), aprovar essa última reforma e deixá-la ser aplicada. Só vários anos mais tarde se poderia considerar uma revisão, depois duma inteira geração ter passado por ela e ser, assim, possível avaliar os seus afeitos reais. Melhor educação é possível! o corvo

Publicado a 18 de Maio de 2005

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