O pensamento é fatigante e é mais fácil ser-se jovem praticante do vazio mental. Tal raça de gentes fazem contentes os manipuladores, senhores que pululam por todo o lado e se aproveitam destes inocentes mentais. Alguns jovens associam-se a juventudes partidárias, numa forma só um pouco mais sofisticada de consumo de ideias feitas, mas que, numa sociedade que é a nossa, os faz ganhar reconhecimento, mas nunca conhecimento. Mais provável é que provem o cunhacimento, cimento de toda a lógica partidária.
Há uma tolerância de opiniões que é indiferença, porque condescendência não é inexistência de diferendos e discussão. Cada um aceita a outrém opinião, mas não se procura apurar a verdadeira. A verdade não é prioridade desta juventude enquanto isso não a prejudica directamente. Por isso não há claridade, não há transparência, só aparência. “O mundo pode ruir desde que não me mate a meio do apocalipse” – vede o espiritualismo desta gente, tão desapegada da matéria e das coisas do mundo! Ironia, quão doce és, que nos fazes dizer verdades ao revés!
É preciso o confronto para que surja uma nova ordem. Mas esta é a juventude do “peace and love and money”, como pregava o anúncio recente dum automóvel. Não percebe ninguém, porém, como alguém escreveu, que “a paz dos homens é a guerra das ideias”? Não, ninguém entende, que este é o tempo da iliteracia que a todos se estende, como um polvo que sobre todos esparge a sua tinta negra e a ignorância faz-se regra. Ninguém precisa de entender, só tem de tender para onde tende a massa, o grupo – disso o sucesso depende, nem que isso signifique que o jovem – que o homem! – sua liberdade a uma caixa quadrada venda. Venda lhe tolha os olhos!
Nem a verdade nem a liberdade são bandeiras desta geração que só quer bandejas. Como se podem os jovens revoltar? Revolta implica pensamento. Revolta pede movimento. Mas é inércia o sentimento que doma e come toda esta geração. O mundo parte-se em bocados, o fim caminha a passos largos e aqueles que serão os governantes de amanhã dormem encostados, desencontrados do real. O mundo vai mal, mas não é esta juventude mole que o poderá mudar; ainda que o vá mandar, não o vai emendar. Onde está a rebeldia doutrora, meus irmãos? No armário em que o povo nos coloca nesta idade? Não sentis já o cheiro a mofo que o preenche?
Não, vejo-me ao espelho e comigo olho toda a juventude. Não encontro nos seus rostos o fulgor que construiu maios de 68 e hippies, ou o que monta agora marchas de liberdade no país do cedro, Líbano distante. Não, a juventude portuguesa o melhor que consegue fazer é trancar a Porta Férrea e pôr uma carrinha à frente porque a meia dúzia de gatos pingados que a velavam têm de ir tomar um café. Não, a juventude de hoje só consegue protestar para não ter de pagar propinas para lhe sobrar mais dinheiro para ir à discoteca. Não, a minha juventude só consegue reclamar para ter educação sexual porque infelizmente são todos uns coitados ignorantes que nunca ouviram falar de sexo e afins. Não, esta juventude só consegue lutar pelo aborto porque o prazer libidinoso deu para o torto e mais vale ter fora o caroço do que ter de tratar do bebé moço.
Assisto à sesta deste bicho que sou eu e os iguais a mim e ao declínio do nosso poder, ao enrouquecer da nossa voz, ao enlouquecer de nós, que só a loucura justifica esta decadência. E aguardo o fim da nossa demência... ■ o corvo
Publicado a 20 de Abril de 2005
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