Concluímos, nesta crónica, a revisão dos avanços e recuos na educação portuguesa, no fim deste primeiro ano socrático, comparando com o que antes tínhamos proposto.
A última das minhas propostas era o fim de todas as reformas educativas a médio prazo. A OCDE apontou, para explicar os resultados portugueses insatisfatórios, a instabilidade governativa na pasta da Educação: 27 ministros em 30 anos. Cada um com a sua reforma, como uma senhora chique que se faz acompanhar, ao descer à rua, do seu cãozinho. Não nego que algumas possam ter sido proveitosas, mas esta espiral instaurou um mal-estar profundo na comunidade educativa. Note-se: eu apanhei uma nova reforma; aqueles que me precederam tiveram a sua própria; aqueles que, para o ano, tomarão o meu lugar, têm já uma nova.
Às propostas que em tempos idos lacei, acrescentaria outra que, cada vez mais, se me tem imposto com vital para um rendimento escolar saudável e que a OCDE veio reiterar: corpo docente mais estável. Em Portugal, dizem as estatísticas, um terço dos professores muda de estabelecimento de ensino todos os anos. Para além de prejudicar fortemente as vidas pessoais dos docentes, afecta ainda os alunos que, a meu ver, em cada ciclo, deviam ser acompanhados pelo mesmo conjunto de professores, ou seja, do 5º-6º, do 7º-9º e do 10º-12º. Eu tenho essa experiência, escolas de sucesso têm-na, e, são benéficos os efeitos duma tal política.
Claro que, a ameaçar esta estabilidade docente, aparece o novo diploma que a senhora ministra quer fazer aprovar, onde se pretende que os pais avaliem os professores, os tais, que, nas palavras da mesma, parecem ser os únicos responsáveis pelo insucesso escolar. Plagiando um filme francês, onde um rapaz perguntava a uma rapariga, que lhe respondia afirmativamente, se cria no amor à primeira vista, eu, tal ele, depois, replico «Ingénua». De facto, muito naïv deve ser a ministra senhora para diabolizar assim os docentes, esses mesmos que, como mostrou uma reportagem recente da televisão pública, estão, em muitos sítios, em estado de sítio. Ao entregar a avaliação a uma das facções do processo educativo (os encarregados de educação), vicia todo o sistema. Era como se, suponhamos absurdamente, o BE fosse encarregue de ajuizar sobre o PSD. Os pais, esses mesmos que, na maioria dos casos, se demitiram da educação dos filhos (veja-se quantos respondem às convocatórias escolares), obviamente tenderiam para a parcialidade, no grosso das situações, como é facilmente entendível. Avaliem os professores: mas que o trabalho seja feito por uma comissão neutra, também conhecida por independente.
Os professores, esses, face a tantos ataques sistemáticos, falaram na possibilidade de uma grave greve que abarcaria os dias dos exames nacionais. Sei que balbucio “Razões de quem parece que é suspeito”, como dizia Camões de Baco. Enquanto finalista, sei da fragilidade da minha posição nesta matéria, por inevitavelmente surgir como tendenciosa, por muito que eu clame a sua neutralidade. Que um grupo (professores) prejudique outro (alunos), quando a única razão de existência dos primeiros é educar os segundos, parece-me reprovável e revela que, em Portugal, não se combate pela educação, mas por interesses de classes.
O relatório da OCDE vem-nos relembrar o verdadeiro objecto da justa luta. Diz: “Apesar de não ser o discurso oficial, a retenção dos alunos é uma prática frequente e tida como a principal ferramenta para corrigir as lacunas na aprendizagem”. Ai!, quem me dera poder chumbar o Ministério da Educação!
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