11 July 2006

Metamorfose Incompleta III

Continuamos a nossa análise, à luz das conclusões do relatório da OCDE, do que, no primeiro ano do executivo socrático, foi feito na área da educação, em comparação com as propostas que avançámos há um ano neste mesmo espaço.

Salientámos então a importância da obrigatoriedade da creche. Obviamente, continua por realizar. Por sua vez, o que então me motivou a inclusão desta reivindicação (que opunha à decisão ministerial de prolongar a obrigatoriedade do ensino até ao 12º ano) parece ter caído no esquecimento. Sobre este projecto do governo, diz a OCDE que não passa por aí a solução, já que poucos são os países que adoptaram essa estratégia. Acresce que se deve continuar a apostar na diversificação do secundário, investindo no ramo tecnológico. Este é, de facto, dos mais bem conseguidos e desenvolvidos do nosso país, razão de orgulho para nós (recordo a recente parceria estabelecida pela Vasconcelos Lebre com a Alemanha). O que, hoje, porém, me arrisco a defender é que esta via técnica se inicie muito antes, isto é, que, enquanto opção, seja disponibilizada logo desde o terceiro ciclo. Isso permitiria a muitos alunos – francamente desmotivados, que se arrastam pelo básico até aos 16 anos – seguir uma via profissionalizante que melhor os serviria e os manteria na escola, com mais interesse e, consequentemente, menos abandono. Esta deserção é um dos mais dramáticos fenómenos registados pelo relatório da OCDE, que pareceu ficar chocada com o facto de que aqueles que não acabam os estudos não têm dificuldades de trabalho, pelo contrário, a taxa de emprego é mais elevada para estes do que para os que concluem o secundário e mesmo para os licenciados. Que estes têm emprego é cada vez mais um mito.

Uma das outras bandeiras que levantava era a obrigatoriedade dos exames nacionais no termo dos vários ciclos de educação. Desenterrei esta preciosa frase da senhora ministra, proferida no início das suas funções: “É preciso ter consciência de que [os exames] avaliam apenas uma parte das capacidades dos alunos. Não avaliam coisas como a oralidade.” A frase põe o dedo na ferida, achando – eureka! – o busílis de toda a examinação das línguas estrangeiras. O que falta exactamente nos exames de, por exemplo, inglês, francês ou alemão é a avaliação da oralidade no seu duplo sentido: do falar e do ouvir. O conhecimento de uma língua não pode ser somente mudo (ler e escrever). Este é um dos vários pontos críticos a reformular nos exames. Porém, hoje, com a extinção gradual dos exames levada a cabo pela senhora ministra, mais importante que reformulá-los, é mesmo mantê-los.

Quanto à forte redução da carga horária, o Público de dia 28 de Abril tinha uma magnífica carta de leitor, onde, com toda a clareza, se apontava este problema como a causa maior do insucesso escolar e se acusavam os responsáveis pela perpetuação deste sistema em que os alunos do básico chegam a ter 15 disciplinas(!): os sindicatos (que, obviamente, não pretendem a redução do horário lectivo pois isso implicaria menos empregos) e as associações de pais (que querem as escolas abertas o maior tempo possível, pois não têm onde deixar os filhos). Os dois lobbies conjugados, ao qual se parece associar o próprio governo (não esqueçamos o adiamento da hora de saída na primária decretado por esta ministra), resultam na visão, comum a tanto bons como maus alunos, da escola como uma prisão. Só nenhum dos condenados compreende o crime que cometeu...

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