A palavra, curta, mas suficiente para fazer um parágrafo pelo peso. Por duas semanas longas, bicho hibernado, centrei-me concentrado – como os sumos artificiais, como é tanto do estudo que, neste tempo, se pratica – na matéria grave e sábia em que me iam experimentar. O de História era, a mim e aos como eu, aquele que mais pesadamente preocupava. Ironia do destino – e o destino tem essa virtude de ser particularmente cínico, foi o mais triste de todos.
Com novo programa, impossibilitados de utilizar os exames de anos anteriores como referência, sem qualquer prova modelo enviada pelo Ministério (apenas algumas directrizes), foi com surpresa manifesta que recebemos a aberração, entre grande formalidade de exame. Num primeiro conjunto, éramos confrontados com quatro questões semi-sucintas sobre o Estado Novo e uma de desenvolvimento. Esta última, contudo, não só era loucamente absolutizante, exigindo que nos estirássemos ao longo de múltiplas linhas – e, mais grave, minutos – como nos forçava a repetir muita informação anteriormente referida noutras perguntas.
O segundo grupo, esse, porém, é que se apresenta com todo o seu esplendor de disformidade: três perguntas referindo-se a um discurso de Kofi Annan sobre as questões transnacionais da actualidade, datado de 2004. Se o Ministério pretende com este grupo – que valia, note-se!, 70 pontos – testar a interpretação textual, só posso deduzir que, por certo, se terá enganado no exame: o de Português B talvez fora, para isso, mais eficaz. Ah!, mas esqueço-me que também este deixou aparvalhados alunos que, obrigados a decorar, à pressa, num só ano final, matéria gramatical (e que matéria!, as novidades gramaticais que já tive aqui antes oportunidade de falar), a viram praticamente excluída do exame, o qual pouco apelava aos seus conhecimentos gerais, resumindo-se a uma correcta leitura de textos apresentados.
Como estes, também os alunos de História perceberam que o que haviam estudado – ou não, já que estes assuntos, últimos no programa, tendem, consequentemente, a serem deixados de lado ou dados sob pressão e mal – de pouco lhes serviria para resolverem aquelas questões. Porém, até isso é o menos! O que, de facto, escandaliza aqui é o próprio testar destes assuntos. Considera-se, lugar-comum, que a História se pode fazer com justiça e imparcialidade volvidos trinta anos sobre os acontecimentos que se pretendem estudar. Ora a matéria de 12º vai desde o final da I Guerra Mundial até ao ano passado, incluindo acontecimentos muitíssimo interessantes como os atentados da Al-Qaeda, o Euro 2004 ou a eleição de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia. Seguindo o critério referido, tal devia ser ensinado apenas em 2034 – se é se na altura ainda existir Portugal, algo de que devemos sempre duvidar.
Se já leccionar isto foi uma parvoíce, mais ainda que tal saia num exame nacional, para o qual se foi obrigado a estudar três maciços volumes para, no fim, sermos presenteados amargamente apenas com dois temas, um deles ridículo. Compara-se com o currículo anterior e o seu exame, de estrutura completamente diferente e que permitia uma muito maior cobertura do programa, abordando (tome-se o exame de 2005) o modernismo na arte, o pós-II Guerra Mundial, o 25 de Abril, a Grande Depressão, a Primeira República, entre outros. Até neste aspecto, regredimos. Mas, aliás, em todos os aspectos, enquanto país, regredimos. Descansa-me ao menos que os que se me seguirão não terão igual exame de Histreta (Históra+Treta), mas novo (provavelmente, também sem prova modelo...). Só posso reiterar o que escrevia Eça n’Os Maias (aplicação de conhecimentos do estudo para os exames): «Isto é um país impossível!»
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