03 April 2006

Regresso À Cidade...

1. O governo anunciou, pela secretária de Estado dos Transportes, no início do mês que se esquece, que tenciona expandir a rede do sebastianista – porque se espera e não vem – Metro Mondego através da criação de um eixo Norte-Sul que una Mealhada a Condeixa, com um possível alargamento até à Figueira da Foz. O sistema do tram – como se designa este tipo particular de carruagem que pode servir-se quer das tradicionais linhas de comboio quer das linhas próprias de metro, saltando entre os dois sistemas sem entraves – ligaria, deste modo, uma vastíssima área do centro litoral, da qual a Mealhada seria a fronteira. Porém, o Presidente da nossa Câmara apressou-se a esclarecer, ao Público, que «Estamos em condições de dispensar o metro»; mais, «Ainda seríamos mais mal servidos pelo eléctrico».

Estamos «razoavelmente servido[s]» pela CP e pelos autocarros, mas porque não superar a mediocridade de um “razoavelmente”? Encontramo-nos perante uma oportunidade única de reforçar a nossa união á área metropolitana de Coimbra – da qual, de resto, já fazemos parte. A possibilidade de, apanhando o metro na Mealhada e, sem o abandonar, circular por toda a Coimbra, e, em dia de Verão, estender a viagem até à Figueira, é cenário quase futurista não fosse a iminência da sua muito plausível concretização nos tempos próximos. A sua construção não invalida a do troço da EN1/IC2, entre Sargento-Mor e a Anadia, essa prioridade pela qual o Presidente não troca o tram. A recusa do metro não pode servir como pressão para tal variante – que jeito estranho de negociar politicamente! Estaremos tram-ados?

2. Baixo agora a pena crítica e descanso a postura de corvo irritante que bica os transeuntes para me sentar num ramo da árvore e, arrisco!, cantar até (efeitos, talvez, da Primavera). Guardo o dedo indicador e, mãos abertas, ovaciono. Como noticiado no número anterior do jornal, esteve entre nós Mário Augusto em mais “Um Café Com...”. Pude participar na conversa com o entrevistador e isso recordou-me a significância cultural do Cine-Teatro Messias no panorama cultural do concelho.

A temática de todo o serão – o cinema – ainda mais fortemente me fez meditar no papel do espaço onde me encontrava. Senti que fazia um regresso a casa. Há uns cinco anos atrás, pouco ou nenhum seria o meu interesse em participar em tal sessão: ia duas vezes ao cinema, quando estava de férias, emigrado na praia – e todo o mais ano era um deserto. Foi, em 2001, a recuperação do Cine-Teatro, que me fez mergulhar, irrecuperavelmente, nesse mundo. A proximidade inédita aos bens culturais que gerou, permitiu uma mudança qualificativa dos meus gostos – e dos de tantos outros mealhadenses.

E, porque o Cine-Teatro fez-se por justaposição, no seu segundo termo revela, explícita, a sua segunda força. Com um recinto à altura, a Mealhada começou a acolher grandes representações teatrais e criou as bases para o posterior desenvolvimento de grupos teatrais, como a Oficina de Teatro do Cértoma. A título de exemplo, só este mês de Março que se fina, o Messias assistiu a um monólogo de Sofia Alves e ao clássico Felizmente Há Luar! – que, nem a propósito, eu comecei, nessa semana, a estudar a Português.

E porque um palco não serve apenas à dramaturgia, como esquecer os concertos que já proximamente preenchem de novo a nossa sala de espectáculos? E quantas pequenas – mas nem por isso menos belas ou significativas – exposições não cruzaram já aquele recinto? Indubitavelmente, a recuperação do edifício e da área envolvente foi a maior benesse com que a população da cidade se viu agraciada nos últimos anos (e o tram pode vir a ser a próxima...) – que ela saiba continuar a fazer justo e saudável uso dela.

Publicado a 29 de Março de 2006

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