O sentimento mais instantâneo com que abandonei a sala de cinema foi o de uma profunda impotência: o filme revela bem – àqueles de nós mais cegos, ou inocentes (qual, dos dois, o meu caso, desconheço) – como as grandes decisões neste plano (o militar) estão completamente fora do âmbito de acção do cidadão comum, cuja opinião é irrelevante nesta matéria. Assim o verificámos, por exemplo, aquando da guerra do Iraque, em que, não obstante a mobilização mundial contra o conflito, este foi desencadeado – para ainda hoje se arrastar.
Sendo uma apresentação equilibrada dos dois lados (palestiniano e israelita), a fita revela, nuamente, como as razões de ambas as partes são as mesmas, logo, inconciliáveis: tanto uns como outros recorrem ao argumento do sangue, da família, da terra. Num dos diálogos do guião mais reveladores a esse respeito, um palestiniano comenta que o seu povo está disposto a esperar milhares de anos para recuperar a sua terra, tal como os israelitas, desde a destruição de Jerusalém, também esperaram, vendo só concretizado o sonho do regresso à pátria. Perante argumentos desta natureza, era inevitável que o filme se fechasse com uma triste mensagem de desesperança: a fita não prega moral, apenas constata a impossibilidade de paz.
A única, mas grande, diferença nos métodos entre palestinianos e israelitas é o facto de, pelo menos intencionalmente, os últimos não assassinarem inocentes, ou, sendo mais precisos, civis: pois nem sempre a culpabilidade dos alvos a abater pelos israelitas está suficientemente bem provada, deixando espaço à dúvida – e ao consequente abatimento de inocentes. Pelo menos, a informação, dentro dos seus limites que comportam a inexactidão que acabámos de referir, não era deliberadamente fabricada: como aconteceu na Guerra do Iraque, com a CIA e as “provas” das armas de destruição maciça.
Ainda assim, esta política de eliminação selectiva – como lhe chama Israel, que já avisou que prosseguirá com ela, pondo na lista inclusive o recém-eleito primeiro-ministro do governo Hamas – tem verdadeiros efeitos práticos? A película é, garanto, profundamente deprimente. A resposta que nos dá é um redondo não, ainda que, em defesa de tal estratégia, um dos personagens argumente que não deixamos de cortar as unhas só porque elas voltam a nascer, para explicar porque, a seu ver, se deve continuar com tal política, ainda que o terrorismo surja, claramente, como uma Hidra, em que uma cabeça cortada dá logo lugar a duas. Avner, o protagonista, não aceita a explicação, resignando-se à vanidade das suas acções.
Munique é também um magnífico ensaio sobre como a violência altera para sempre um homem. Os membros da Mossad destacados para assassinar os responsáveis pelo planeamento de Setembro Negro começam, gradualmente, a ter dúvidas sobre a justeza moral da sua missão: ou não estarão eles, para todos os efeitos, a assassinar também?
Publicado a 29 de Março de 2006
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