A Juventude Socialista (JS) tem um novo outdoor. O objecto, espreguiçado por alguns amargurados metros quadrados, proclama pomposo sobre um fundo azul: “Desde 2005 mais de 54.300 estágios profissionais”. No canto inferior direito, ao lado de uns bonequinhos coloridos e dançantes, lê-se: “O futuro já começou”. A ocupar o lado esquerdo do cartaz, há um rapaz contente, abraçando pela cintura uma loira e uma morena. Dalguma forma, este outdoor é o símbolo final da política moderna. Passo a explicar.
Os partidos, sob recomendação do omnívoro capitalismo, converteram-se em empresas. As declarações de Menezes na semana passada, defendendo que o PSD deve “profissionalizar-se, passando a funcionar como uma empresa”, constituem uma imaculada expressão do tempo presente. Tendo um produto a vender – o programa político –, a empresa-partido recorre ao marketing para o divulgar junto dos clientes e consolidar a sua posição no mercado: assim se explica o outdoor da JS, a meio do mandato do mandão Sócrates, louvando as “vitórias” do executivo rosa. Mesmo aqueles sem qualquer formação na área da publicidade não ignoram que, numa sociedade infantilmente sexual como a nossa, a presença de uma figura feminina atractiva num anúncio é um artifício popular para promover o produto – exemplo disso é a última e parva campanha da TV Cabo, em que os serviços oferecidos pela empresa surgem encarnados em três raparigas que se querem de boas formas curvas. No outro dia, de resto, indo às compras com um amigo meu, até nas embalagens de queijo encontrámos uma imagem de uma mulher em biquini. Seguindo pois os mais eficazes métodos da publicidade, a JS, como boa empresa, resolveu colorir o cartaz com a já mencionada imagem do rapaz feliz em dupla companhia feminina. O partido que foi responsável pela criação, no tempo de Guterres, de um Ministério para a Igualdade, cola pelo país outdoors de um explícito machismo, denegrindo a mulher à condição de produto físico. Graças a Deus que os partidos não têm vergonha.
Empresas que são, necessitadas de vender, os partidos recorrem, para alargar a sua quota de mercado, a par e par com as mulheres seminuas, às semi-verdades, quando não mesmo à mentira. Isso, de resto, é uma prática comum nesse habitat: Durão Barroso veio ainda recentemente declarar sobre a famigerada Guerra do Iraque que “houve informações que me foram dadas, a mim e aos outros, que não corresponderam à verdade” – antes que Durão o tivesse reconhecido, já a realidade o confirmara há muito, infelizmente. O cartaz da JS obedece a estas técnicas de ocultação da verdade, amigas da publicidade. Eufóricos, os pupilos socialistas rejubilam com as medidas em prol dos jovens (dizem no seu site), com os 54.300 estágios (!) profissionais do cartaz. Esquecem deliberadamente os dados recentemente revelados pelo Instituto Nacional de Estatística. Segundo este, a taxa de desemprego – que se situa já nos 7,9% - subiu entre aqueles com menos de 35 anos. De acordo com a mesma fonte, a grande maioria dos 106 mil empregos que o governo reclama ter criado, por exemplo, só foram possíveis graças ao acentuado crescimento dos contratos a prazo: os contratos sem termo, pelo contrário, reduziram-se. Seria contudo estranho pedir aos jovens outro comportamento, quando o governo do seu próprio partido envereda pelas mesmas tácticas. Ainda na sexta, o Tribunal de Contas veio denunciar como, através de uma metodologia manhosa, o Ministério da Saúde apresentou resultados assaz positivos, quando, na realidade, a situação do Serviço Nacional de Saúde se deteriorou. E estas são verdades cruas que nenhum cartaz consegue disfarçar.
P.S.: Na impossibilidade de se encontrar o cartaz da JS para ilustrar este post, servimo-nos, em homenagem ao título, do anúncio da Channel com a nossa amada Keira Knightley -perdoem-nos.
0 comments:
Post a Comment