Seja-me permitido aqui reproduzir as palavras, citadas na reportagem, de Takahiro Hadaki, director duma revista juvenil feminina, procurando explicações para tal exacerbado consumismo: «A política não está bem, nem a economia. A população está a envelhecer, e eles [os jovens] sabem que lhes cabe sustentar os mais velhos. Mas acham que não vão conseguir ter dinheiro, mesmo que trabalhem. Estão a desistir de ter esperança no futuro».
Fora de contexto, dir-se-ia que esta frase se refere ao panorama português. Entre os jovens – falo por aqueles que me são próximos e mesmo por mim – esse desalento quanto ao futuro assombra-os: o desemprego é a nova espada de Dâmocles. Em Humanidades, então, o desespero é generalizado. Cada vez mais colegas se inclinam para a hipótese de seguir Direito, o último curso com saída dentro do nosso cada vez mais decadente agrupamento. Os poucos que permanecem fiéis aos seus projectos originais (como Psicologia, História ou Filosofia), ano a ano, tomam maior consciência do suicídio profissional que professam. A título de exemplo, soube recentemente que um archeiro da Universidade de Coimbra é licenciado em Psicologia.
Assim, não é de estranhar que, entre os que obtêm melhores resultados, seja comum o desejo de emigrar. Também não é de admirar que o sistema de cunhas, parecendo ser o único meio de assegurar um emprego, ainda que mal pago, prevaleça: lugares bem remunerados, não os há suficientes para a juventude. Porque administradores da Caixa Geral de Depósitos há só nove... E para que tenhamos as indemnizações, primeiro temos de lá estar! Não que seja complicado: as quotas do partido só têm de estar em dia. Não posso deixar de apontar, a propósito, que, entre os meus conhecidos, é significativo o número de jovens que se têm vindo a registar em juventudes partidárias. Sinal dos tempos? Não obstante esta nova vaga, os partidos insistem em usar os seus velhos vultos, alguns na casa dos oitenta. De facto, como acima dizia Hadaki, «A população está a envelhecer...».
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