O encontro dos G8, que vai ter lugar em Gleneagles, Escócia, aproxima-se. O Reino Unido já estabeleceu quais as prioridades desta cimeira a que preside. Por um lado, o combate à pobreza, que continua a matar 30.000 crianças diariamente, números que justificam acções como o Live8 – oito concertos simultâneos em cidades como Berlim, Londres ou Filadélfia no dia 2 de Julho; palcos onde actuarão artistas de renome pretendendo convocar o maior número de espectadores para assim pressionar os G8 a tomarem medidas drásticas de apoio a África. O segundo grande tema que Tony Blair pretende tratar nesta cimeira é o clima, cujas dramáticas alterações já foram classificadas por ele de “provavelmente, o desafio mais importante que enfrentamos enquanto comunidade global a longo prazo.” Cerca de metade da poluição mundial é produzida por estes países, nomeadamente a América que mantém uma atitude céptica irracional. Esta descrença americana obrigou a que no projecto de declaração final da reunião dos G8, datado de 14 de Junho – como o Público indicava na semana anterior – frases como “o nosso mundo está a aquecer” e “sabemos que o aumento é devido em grande parte à actividade humana” se encontrem entre parêntesis, traduzindo uma discordância dentre os G8.
Mais revoltante ainda é a recente notícia do New York Times de que os relatórios científicos sobre esta temática foram consecutivamente manipulados por um funcionário da Casa Branca que antigamente liderava a luta das empresas petrolíferas contra os limites de emissão de gases. Outros funcionários da Casa Branca prontificaram-se a justificar tal actuação, chegando a afirmar que as alterações feitas aos relatórios científicos eram uma parte natural da revisão efectuada a todos os documentos de igual assunto. Não é descabido lembrar ainda a proibição da administração Bush, aquando da estreia do filme O Dia Depois de Amanhã, de que os cientistas da NASA se pronunciassem sobre a película, que era uma crítica à política anti-ambientalista da sua presidência e que versava sobre os cataclismos que o aquecimento global pode provocar.
Entretanto, enquanto a política de silêncio e inoperância prossegue pomposa, o mundo definha a passos largos. No início deste ano foi divulgado, por parte do Grupo de Trabalho Internacional sobre Mudança do Clima, um relatório onde se afirma que a humanidade tem aproximadamente dez anos para poder reduzir muito substancialmente as emissões de gases poluentes, caso contrário, o risco para ecossistemas e sociedades aumentará significativamente, envolvendo as consequências perdas agrícolas severas e forte escassez de água. O mundo dispõe duma década até atingir o chamado ponto de não retorno. Os estudos científicos mais apocalípticos indicam 2050 como a data em que a vida terrena se terá tornado insustentável.
Também Portugal não está isento. A seca actualmente vivida que tem levado a racionamentos de água como aquele que agora parece também vir a ser aplicado no nosso concelho são consequências directas da instabilidade climática. Um relatório da Agência Europeia para o Ambiente veio revelar, este mês, que fomos o quarto país europeu com concentrações de ozono mais elevadas no Verão de 2004.
Existe um site que propõe que todos saltemos ao mesmo tempo para desviar o planeta do seu eixo, o que supostamente pararia o aquecimento, através do aumento dos dias e da homogeneização do clima. Se nada for feito pelos G8, mais me vale inscrever nessa patética, mas desesperada acção: saltar para salvar o planeta... ■ o corvo
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