Se a ideia é abjecta, conduz-nos também a uma reflexão sobre o seu oposto: se esta obsessão desenfreada pelo estudo e pelo sucesso tem os seus efeitos nefastos, o mesmo se aplica ao relaxamento generalizado que degenera na estupidificação da juventude, entre nós. A exigência deveria substituir a indulgência, sob a asa da qual tantos maus resultados são permitidos. O ritmo de aprendizagem é definido pelos que obtêm piores resultados, obstruindo o progresso do aluno médio e retardando o do bom pupilo. Vozes erguem-se já para me classificar de elitista, contudo, já a primeira Constituição no âmbito da Revolução Francesa declarava que todos os homens eram iguais, sem qualquer outra distinção senão o seu mérito e talento. Ser elitista significa defender e premiar aqueles que trabalham mais, que se esforçam. Quer-se mão-de-obra qualificada, mas a Juventude Comunista Portuguesa não deixa de reivindicar o fim dos exames nacionais, pela óbvia discriminação que eles constituem, como bem sabemos.
Mas de que servem também tais avaliações se – como no caso da prova de Português de nono ano – roçam o cúmulo do ridículo, com perguntas maioritariamente de cruz e outras que parecem escarnecer das capacidades intelectuais dos alunos? É que – isto é importante que se compreenda – a nossa juventude – não obstante tudo o dito, até por mim mesmo – não é estúpida: ela é estupidificada; mais, é encorajada a deslizar para essa estupidez por pedagogias baratas que, de reforma curricular em reforma curricular, têm vindo a simplificar os programas. Há um célebre problema conhecido como “o problema da batata”, que é uma sátira impecável e implacável a este processo degenerativo do ensino. Por questões de espaço, é-me impossível reproduzi-lo nesta coluna, mas pode ser encontrado no sítio http://pascal.iseg.utl.pt/~ncrato/Math/EvolucaoEnsinoMatematica.htm. A Filosofia, suposta disciplina do pensamento, somos levados a decorar, mais que compreender; a aceitar, mais do que a conquistar; a calar, mais do que a discutir.
Assim, com a sociedade incitando os jovens a não pensarem, fornecendo-lhes uma mundividência fabricada pelos mass media, nunca poderá surgir um cidadão no verdadeiro sentido do termo, ciente dos problemas da sua pólis, pronto a discuti-los na ágora moderna. Inversamente, como exposto na última crónica, o jovem comum ocupa-se só de si, dos seus conflitos, dos seus conhecidos e promiscuidades. À crise económica e política acrescente-se a crise dos vindouros. Os efeitos da tomada do poder por parte de um homem conotado com a diversão boémia e as mulheres – que ele apelidava de “os meus colos” – foram desastrosos. Imaginemos um país dum povo de análoga massa à deste homem. A essa evidente crise social que produziu tais homens, ajunte-se uma crise económica e política, com gentes que, já o diziam os romanos, “não se governam nem se deixam governar”. Onde desembocam os pesadelos? ■ o corvo